O período pandêmico produto da COVID-19 pode ser caracterizado como um tempo de novas mobilidades e mobilizações. As medidas sanitárias mudaram os padrões de movimento dos migrantes internacionais e as consequências socioeconômicas e humanitárias da pandemia obrigaram a emergência de diversas iniciativas globais e locais de apoio e intervenção. Na América Latina, devido às suas condições históricas e estruturais de desigualdade e violência, as práticas de solidariedade e apoio mútuo são anteriores à contingência do coronavírus, acumulando uma série de conhecimentos e saberes populares para resistir individual e coletivamente às adversidades. Porém, o período da pandemia produto do vírus SARS-CoV-2 forçou o encontro entre diferentes tipos de práticas e saberes, institucionais e comunitários, globais e locais, para enfrentar os vários problemas que acarretavam.
A partir de uma perspectiva etnográfica, o projeto de pesquisa propõe explorar na diversidade de práticas e saberes que dialogam nos processos de saúde-doença/atenção-cuidados da população migrante em espaços de acolhida público-privados na Zona Leste da cidade. Em específico, se propõe um trabalho de inserção nas repartições da Cáritas Regional São Paulo (Jardim Guairacá e Mooca), com entrevistas em profundidade, além de observação e participação parcial nas reuniões de avaliação dos casos internos com os técnico-profissionais responsáveis pelo acolhimento. O estudo analisará as relações de interação entre sujeitos, práticas e dispositivos de cuidado à saúde e proteção social que configuram as “ecologias locais de cuidado”. Em específico, o trabalho de campo explora as relações dos profissionais das organizações sociais com os dispositivos formais de saúde no cuidado de migrantes. Por meio das análises de casos, se exploram os itinerários terapêuticos e as práticas de autoatenção dos próprios migrantes residentes nos espaços de acolhida.
A proposta de pesquisa pretende contribuir para o debate sobre as práticas humanitárias globais das organizações sociais e eclesiásticas junto com problematizar a construção social dos migrantes como sujeitos vulneráveis, merecedores de cuidado e proteção social, sem reconhecer a potência dos agenciamentos locais e seus próprios ecossistemas dinâmicos de cuidado.
Membros: Cristóbal Abarca Brown; Denise Martin; Cássio Silveira
Palavras-chaves: migração internacional; humanitarismo; ecologias de saberes; cuidado; ONG.